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terça-feira

A ascensão do jornalismo "faça você mesmo"

Dizem que a história é escrita pelos vencedores. Mas o que acontece quando os perdedores contam com um sistema próprio de publicação? Contrariar o poder está bem mais fácil com o uso das novas mídias, e isso tem abalado os alicerces da mídia tradicional.

Depois de o presidente Mahmoud Ahmadinejad ter ironizado os que protestavam contra os resultados das eleições no Irã, comparando-os a torcedores de futebol descontentes com "poeira", um manifestante respondeu com a seguinte mensagem no Twitter: "Ahmadinejad nós chamou de poeira; nós lhe mostramos uma tempestade de areia".
Enquanto repórteres da grande imprensa eram forçados a deixar o país, a história foi sendo deixada a cargo de iranianos com coragem suficiente para fazer vídeos e fotos com seus celulares, postar notícias no Twitter e escrever blogs sobre os protestos. Com o Estado no controle da TV e dos jornais, os iranianos recorreram ao Facebook e às mensagens de texto para se informar sobre os protestos. Quando essas vias também foram fechadas, o Twitter foi o que lhes restou.
Mas essas mídias não tradicionais têm seu lado negativo, que inclui a dificuldade de verificação dos dados e as ameaças à segurança pessoal de quem as faz. São grandes os riscos corridos por jornalistas independentes e cidadãos desprovidos do apoio de uma organização influente, e duas americanas do canal Current TV aprenderam isso da maneira mais dura ao serem detidas na fronteira da Coreia do Norte e, no início de junho, sentenciadas a 12 anos de trabalhos forçados.
"Em qualquer organização noticiosa principiante, há uma visão de que é preciso ser mais ousado do que outros veículos, para conseguir chamar atenção ao que você divulga", disse ao "New York Times" o jornalista freelancer Kevin Sites. "Isso traz um risco real."
Robert Mahoney, vice-diretor do Comitê para a Proteção dos Jornalistas, disse que as grandes organizações noticiosas "têm recursos com os quais podem contar para ajudar" jornalistas. "Seu acesso a rádio, TV e internet é algo que não pode ser subestimado." Quando o repórter Alan Johnston, da BBC, foi seqüestrado em Gaza, em 2007, a emissora organizou manifestações e petições e convenceu outras redes a cobrir o tema, para fazer pressão por sua soltura. Ele foi libertado depois de quatro meses em cativeiro.
A mídia não tradicional assume outros tipos de riscos para atrair atenção. Como escreveu Damon Darlin no "New York Times", quando os blogs "TechCrunch" e "Gawker" postaram rumores de que a Apple estaria interessada em comprar o Twitter, atraíram muitos leitores e centenas de comentários. O rumor não demorou a ser exposto como falso.
"Nunca quero perder o caráter inovador e experimental dos blogs", disse Michael Arrington, fundador do "TechCrunch" e autor do post no Twitter.
Os blogs não podem competir com os recursos de que dispõem os veículos de imprensa, de modo que é grande a tentação de arriscar-se divulgando informações interessantes, porém não confirmadas. "A precisão custa caro", disse Arrington. "[Mas] ser o primeiro a divulgar a notícia custa pouco."

Publicado na Folha de São Paulo,caderno The New York Times 22 de junho de 2.009.

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